Ao longo da trajetória de 21 anos na área pré-hospitalar, o socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Passo Fundo, Marcelo Fabra, ajudou a salvar diversas vidas humanas. Mas para ele, não só as vidas humanas importam e o desejo de contribuir – nem que seja o mínimo possível – com os animais ganhou força em sua vida. Enquanto morava em Porto Alegre, começou o trabalho de construção de casinhas para cães de rua e trouxe a ideia para Passo Fundo, onde mora atualmente.
As casinhas são feitas com a madeira de caixas de motores para caminhões. Uma concessionária de Passo Fundo doa as caixas, e Marcelo Fabra consegue tirar delas todo o material necessário para construir o abrigo dos cães. Ele diz que uma caixa tem cerca de 1,5 metros e como é mais reforçada para suportar o peso dos motores, é um bom material para proteger o melhor amigo do homem. Em cada casinha, explica, cabe um cachorro de porte médio. “Faço na garagem da minha casa, quando não pega tanto sol. Levo em média cinco horas para finalizar, mas fazendo um pouco por dia não se nota o trabalho. Na semana passada, minha garagem estava cheia de casinhas e saiu muito rápido”, relembra.
Além de fazer o trabalho manual da construção das casinhas, Marcelo desenha o projeto. Na mesma semana, fez cinco casas e todas foram doadas. “Uma foi para Erechim, outras duas para Getúlio Vargas, em Passo Fundo ficou para uma que adotou um cachorro de rua e uma ficou na sede da Força Voluntária do Norte Gaúcho, o pessoal ficou de doar para uma mulher que pediu”, diz.
Antes mesmo de o desenho estar no papel, Fabra já pensa em como a casinha pode ser e ele conta que se inspira em um site de fotos, o Pinterest, para buscar modelos e melhorar o serviço voluntário. “Eu faço uma ‘varandinha’ aí depois que entrego, coloco a telha, para proteger os potinhos de água e comida/ração da chuva. O animal fica protegido do vento frio do inverno”. Desde que começou com a empreitada há alguns anos, Marcelo Fabra diz que já construiu 40 casinhas. A maioria das pessoas que solicitam as casinhas em Passo Fundo e região são protetoras independentes. “As pessoas passam pelos cachorros da rua e ninguém da bola. Eu trabalho ajudando a salvar vidas e levo isso muito a sério, é salvar todas as vidas, não só a do ser humano, são todas”, destaca.
“EU FAÇO POR ELES, NÃO PARA ME APARECER”
Questionado sobre o porquê de realizar esse trabalho, até então sem grande divulgação, Marcelo afirma que é pelos animais e o bem-estar deles. Ele lembra que no fim do ano, marcado por comemorações com fogos de artifício, diversos cães se perderam de seus tutores, com medo do barulho. “São seres vivos, temos que ajudar. Fiquei apavorado com a quantidade de cachorro perdido por causa dos fogos. As pessoas compartilham rápido, para ajudar a encontrar o dono. Acho que o pessoal se coloca no lugar do dono que está sem o animal, preocupado. Nos apegamos muito aos animais”, pontua. E completa: “Eu faço por eles [cachorros], não para me aparecer”.
As pessoas passam pelos cachorros da rua e ninguém da bola. Eu trabalho ajudando a salvar vidas e levo isso muito a sério, é salvar todas as vidas, não só a do ser humano, são todas
Mesmo fazendo o trabalho de construção das casinhas e doação sozinho, Marcelo espera que mais voluntários apareçam e que a causa animal possa ganhar mais adeptos. “É mais uma oportunidade para as pessoas que gostam dos animais, de poder se aproxima efetivamente. Não adianta só falar ‘coitadinho dos animais na rua’ e não ajudar”, finaliza.
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