Sem motivos para comemorar, o Brasil promove nesta terça-feira (29) o primeiro Dia Nacional de Prevenção ao Acidente Vascular Cerebral (AVC) com uma média 400 mil casos por ano, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBACV) e do DataSUS. Estes resultam em 100 mil mortes e bilhões aos cofres públicos em atendimentos de urgência, internações, tratamentos e reabilitação.
O Rio Grande do Sul acompanha as taxas nacionais de incidência e de letalidade nestes casos. De acordo com o presidente da SBACV no Estado, Luciano Amaral Domingues, o Sistema Único de Saúde (SUS) investe anualmente R$ 50 bilhões em gastos diretos (internações, tratamentos) e indiretos (redução da produtividade e necessidade de suporte contínuo para reabilitação).
“Reduzir a incidência de infarto e AVC e os custos associados necessita de políticas públicas robustas e contínuas, como campanhas de conscientização para a população sobre os riscos do tabagismo, sedentarismo e alimentação”, destaca o dirigente.
Ele sugere também outras ações, como o incentivo à prática de atividade física, programas de saúde voltados à triagem e controle de pressão arterial, diabetes e colesterol. A descentralização e a agilidade no atendimento de emergência do Samu (equipando e preparando as unidades de saúde em áreas mais afastadas e de difícil acesso), além da educação continuada para que profissionais possam identificar e tratar rapidamente e aumentar as chances de recuperação e de sobrevida à doença.
Entre os novos tratamentos está a litotripsia intravascular – cirurgia minimamente na artéria carótida, responsável pelo fluxo sanguíneo para o cérebro –, realizada pela primeira vez no País no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) pelo cirurgião vascular Alexandre Pereira em agosto.
“O aparelho utilizado, shockwave, chegou ao Brasil no início do ano. O seu uso na carótida ainda é restrito, foram feitos estudos recentes nos Estados Unidos e na Europa. Mas não é um tratamento para substituir o stent normal, ele é um dispositivo que permite tratar as placas muito complexas e calcificadas para depois a gente poder colocar o stent”, explica o médico.
A cirurgia é realizada a partir de um cateter introduzido pela virilha da paciente e guiado até a região do pescoço (onde estava o coágulo). Este “balão especial” emite uma pressão grande por meio de ondas de choque ultrassônicas que quebram essa placa de forma controlada. “Ele permite tratar, de forma endovascular e sem fazer corte placas muito calcificadas que antes só eram tratadas por meio de cirurgias abertas”, detalha Pereira.
Com o envelhecimento da população e o consequente aumento de fatores de risco, a tendência é de os índices de prevalência e de mortalidade sigam em curva ascendente. De acordo com o coordenador da Linha de Cuidado do AVC da Santa Casa de Porto Alegre, Diógenes Zãn, “entre os sobreviventes, 70% não conseguirão retornar o trabalho e 50% terão dificuldades nas atividades de vida diária, como se vestir, tomar banho e se alimentar sozinho”.
De acordo com Zãn, o combate aos fatores de risco – como hipertensão, diabetes, colesterol alto, tabagismo, sedentarismo, obesidade e consumo excessivo de álcool – pode reduzir em até 90% a chance de ser acometido pela doença. Para diminuir a letalidade, o neurologista lembra que é preciso estar atento aos sintomas e buscar ajuda o quanto antes, pois há uma janela terapêutica que dá maior chances de recuperação e redução de sequelas.
“Para realizar a trombólise, procedimento que utiliza medicação para dissolver um coágulo, o ideal é tratar dentro de 4,5 horas do início dos sintomas. Para a trombectomia (procedimento cirúrgico que remove coágulos sanguíneos de artérias e veias, desobstruindo o fluxo sanguíneo), dependendo do caso, o tratamento pode ser eficaz até 24 horas após o início dos sintomas”, explica o especialista. Dia Nacional de Prevenção ao Acidente Vascular Cerebral (AVC)
Sancionada em junho deste ano, a Lei 14.885, de 2024 que define 29 de outubro como Dia Nacional de Prevenção ao Acidente Vascular Cerebral (AVC) segue a mesma data internacional estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O objetivo é estimular a pesquisa e o desenvolvimento científico para prevenção e tratamento da doença. Especialmente na identificação de fatores de risco, medidas preventivas, diagnósticos, tratamentos e reabilitação de pacientes. A legislação também é uma forma de promover ações educativas e debates sobre o AVC.
Saiba mais sobre o AVC
Principais fatores de risco para o AVC
Entre os fatores mais relevantes estão hipertensão, diabetes, colesterol alto, tabagismo, sedentarismo, obesidade e consumo excessivo de álcool. Adicionalmente, a presença de fibrilação atrial e o histórico familiar podem aumentar significativamente o risco. Combater esses fatores de risco podem reduzir em até 90% a chance de ser acometido pela doença.
Como reconhecer os sinais de um AVC segundo regra Samu (presentes em 89% dos casos de AVC)
• S (Sorriso): Peça para a pessoa sorrir e observe se um dos lados do rosto não se move.
• A (Abraço): Peça para a pessoa levantar os dois braços; observe se ela consegue levantar ambos.
• M (Música): Peça para a pessoa cantarolar uma música ou falar uma frase simples; veja se há dificuldade para falar ou se a fala está confusa.
• U (Urgente): Caso algum dos sinais acima esteja presente, chame o serviço de emergência imediatamente, pois cada minuto é essencial. Diagnóstico
Inicialmente, o diagnóstico é feito por uma avaliação clínica e auxílio de um exame de imagem, como a tomografia computadorizada ou ressonância magnética, que ajudam a identificar o tipo de AVC, se isquêmico ou hemorrágico. A presença do neurologista, presencial ou por telemedicina, é fundamental para aumentar a exatidão diagnóstica e fornecer segurança na escolha do melhor tratamento.
O que é a janela terapêutica no tratamento do AVC? Quanto tempo leva?
A janela terapêutica é o intervalo em que o tratamento tem maior chance de sucesso, especialmente para o AVC isquêmico. Para a trombólise, o ideal é tratar dentro de 4,5 horas do início dos sintomas. Para a trombectomia, dependendo do caso, o tratamento pode ser eficaz até 24 horas após o início dos sintomas. Nos dois tratamentos, quanto antes o tratamento for iniciado, pelo para o paciente; isso porque a cada minuto que passa, sem o tratamento, o paciente com sintomas da doença perde neurônios. Estima-se que são perdidos 1,9 milhão de neurônios por minuto sem tratamento. Por isso, criamos o conceito “tempo é cérebro” para essa doença.
Opções de tratamentos
O AVC isquêmico é tratado com trombólise (uso de medicamentos para dissolver o coágulo) e trombectomia (remoção mecânica do coágulo). No caso de AVC hemorrágico, o tratamento é focado no controle rigoroso da pressão arterial e, em alguns casos, intervenções cirúrgicas e endovasculares para corrigir anormalidades anatômicas no cérebro.
Complicações e reabilitação
Entre as complicações estão fraqueza, dificuldades na fala e problemas cognitivos. A reabilitação envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo fisioterapeutas e fonoaudiólogos, que trabalham para restaurar a funcionalidade e promover a melhor qualidade de vida possível para o paciente.
Prevenção
É possível prevenir em grande parte dos casos, com controle dos fatores de risco, como a hipertensão, e hábitos de vida saudáveis, como alimentação balanceada e prática de atividades físicas. Cuidar de si é fundamental para prevenir diversas doenças, mas especialmente o AVC. No AVC, práticas de vida saudáveis podem reduzir a chance do AVC em até 90% dos casos.
O que é um ataque isquêmico transitório (AIT)?
O AIT é uma interrupção temporária do fluxo sanguíneo para o cérebro, que causa sintomas similares ao AVC, mas que desaparecem em poucas horas. Ele é um sinal de alerta importante e indica risco elevado de um AVC completo no futuro.
Fonte: Coordenador da Linha de Cuidado do AVC da Santa Casa de Porto Alegre, Diógenes Zãn
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